sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Ciclos

Lua é o último poema deste (pelo menos para mim) maravilhoso começo. "Lamentações sob o céu nublado" mesmo sendo triste, possui um forte significado para mim e este final diferente é tudo. Marca o fim de uma era e funciona como um prólogo para a próxima etapa. Espero apenas que esta nova etapa esteja com mais sentimentos animadores. Sendo um ciclo, tendo seu começo e seu fim, não quer dizer que vá parar por aí. Outro ciclo começa quando um acaba, sempre é assim.

Meu próximo passo já foi decidido. Um conto. Como disse outra vez, minha cabeça logo traria algo novo para postar aqui e assim o fez. Em breve começarei a postar fragmentos de uma história, um conto. Fazendo jus ao tema do blog, mergulhando novamente no mundo dos sonhos e das ilusões, onde pessoas se deixam levar pela felicidade momentânea, ludibriadas por um presente magnífico e esquecendo que tal presente também trás malefícios. Um pesadelo mascarado, talvez. Uma sombra que se rasteja atrás da esperança...

Por fim, um amontoado de palavras para refletir. Algumas não possuem significados nem para mim, mas montou um pequeno ciclo (foi este que deu origem ao título da postagem). E aí está:

Ciclo

Nada. Morte. Medo. Dor. Fuga. Batalha. Sobrevivência. Necessidades. Desafio. Superação. Vitória. Prazer. Vida. Paz. Felicidade. Amigos. Lembranças. Tempo. Passado. Nostalgia. Tristeza. Solidão. Doença. Fim. Vazio.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Lua e conclusão

Enfim termino de postar este primeiro bloco. 13 poemas. Número sugestivo, não? Se pensar que comecei isso num tópico de letras de música, seria um bom número para um álbum. Mas são apenas poemas e não músicas, infelizmente.

Confusão foi outra poesia que eu gostei. Mas só quando a terminei, quando fiz os primeiros quinze versos, havia odiado o resultado. Aliás, eu sempre critico o que faço e penso em remodelar tudo, até alguém o ler e dizer que está bom. Após ouvir comentários do tipo duas ou três vezes, passo a enxergar de outra forma. Porém não aconteceu assim com Confusão, odiei os primeiros quinze versos e resolvi embaralhar tudo, mantendo um outro sentido. E assim o fiz. Adorei o resultado imediatamente.

Lua (27/10/08)

O tempo não seria igual na sua ausência
Se souber disso, por que choras?
Afagá-la-ei sempre que estiveres triste
Pois sabes o quão importante és para mim
Se souber disso, por que se afastas?

Mesmo que confronte a luz certos dias

A verdade é que nunca quis ferir ninguém
Mesmo que a escuridão crie nestas ocasiões
Ainda estarei aqui para animá-la
Portanto, mostre-se durante a luz sem temor

Infinita resplandecente graciosa

E até na refração de teu ego
Possui uma pureza inquestionável
Seja de vermelho, amarelo
Ou em seu linho prata

Vamos, deite-se

E quando a noite cair neste tedioso lar
Entenderá que há muito mais afeição aqui
Do que em qualquer outro lugar
Percebendo isso, sorrirás para mim?

Converta seu carinho em salvação

O frio não impede de abraçar
Pois sei que o céu não seria o mesmo sem você
E sabes que amar demais não faz mal
Portanto, mostre-se durante a luz sem temor

Infinita resplandecente graciosa

E até no sofrimento das más estações
Possui uma pureza inquestionável
Seja ontem, hoje
Ou quando nos encontrarmos de novo

Infinita resplandecente graciosa

E até em seu silente sono profundo
Possui uma pureza inquestionávelS
eja sorrindo, seja chorando
Ou descansando em sua fragilidade

sábado, 13 de dezembro de 2008

Confusão

Estou prestes a terminar este primeiro bloco de poesias: Lamentações sob o céu nublado. Falta pouco, apenas 2 poesias, sendo que uma é da postagem de hoje. Após isso, devo dar uma pequena pausa nas postagens aqui. Por falta de assunto mesmo. Sei que minha cabeça logo me trará algo mais para pôr aqui, mas até lá, uma provável pequena pausa. E depois disso, um ritmo mais lento mesmo. Quem sabe não vem outro fragmento do texto que deu origem ao blog?

Onda... Ela possui uma característica interessante. Tem duas datas, uma de quando iniciei e outra de quando terminei. Aliás, é o único poema assim. Interessante também que Confusão foi feito entre esses dias e como comecei depois, ele entra depois na contagem.
E não consigo falar mais nada sobre isso...

Confusão (23/10/08)

Eu odeio a mim mesmo

E desprezo minhas necessidades
Zombo de meus amores
E critico minhas respostas
Afinal, este não é um lugar para mim

Na remota possibilidade de ferir alguém

Optando por me afogar à matar
Abstrata demais é a imagem formada
Para algum significado carregar

Mentiras, foi apenas o que caiu do céu

Vazio, o chão se assemelha a um mar de espinhos
Estupidez, e o que mais puder aflorar

Misturando sonho e realidade, corro para a espiral de confusão

E misturando sangue e restauração, quebro as correntes da sanidade

E o fim se mostra o começo

Eu odeio a mim mesmo

Na remota possibilidade de ferir alguém
Misturando sonho e realidade, corro para a espiral de confusão
Afinal, este não é um lugar para mim
E critico minhas respostas

Estupidez, e o que mais puder aflorar

Zombo de meus amores
E desprezo minhas necessidades
Optando por me afogar à matar

Vazio, o chão se assemelha a um mar de espinhos

E misturando sangue e restauração, quebro as correntes da sanidade
Mentiras, foi apenas o que caiu do céu

E o fim se mostra o começo

Para algum signficado carregar

Abstrata demais é a imagem formada

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Onda

Nossa chuva é... Provavelmente o meu poema preferido. Uma vez eu li em algum lugar que poemas são formados em momentos. E sei que com o tempo o sentimento que nos levou a escrevê-los pode desaparecer, acontece comigo também. Mas com este poema é diferente, eu ainda sinto toda sua força ao relê-lo e o adoro por isso. Creio também que é uma "evolução" minha na hora de compor. E está aí, você pediu, Vini, então eu postei (postaria mesmo se não pedisse).

Onda (19/10/08) ~ (27/10/08)

Suas palavras são documentos para minha alma

E suas atitudes ferem meu amor
Sorrateiramente uma loucura se depositou
Em pilastras que nem Ele salva
Mesmo sabendo disso, ainda não reagiu

Mergulhando num mar de desejos

O emaranhado de freqüências oculta sua presença
E a saudade parece acariciar gentilmente
As alucinações de uma doce fantasia

E mesmo que o vento mude de direção

Sinto que nada se transformará
Pois este clamor remete ao princípio
de um ondeado ciclo perverso
É como viver em um quadro
Estagnado e deixado para trás

Onda,

Este afeto de cristas e vales
Fingi se mover entre nós dois
Onda,
Em picos e depressões de transes
De periodicidade insensível
Onda,
Incapaz de refletir os anseios
Nem de levar consigo alívios

Minucioso toque depreciativo

Abalando sentimentos tangentes
Decompõe a razão e exalta o egoísmo
Estremecendo mundos interiores
Calamidade que devora a si mesma

Vejo o afluxo sobrepor-se a esperança

Vejo a forma real de um medo fantasmagórico
Ouço a dor em gemidos distantes e estrondosos
Ouço sua clara desaprovação restringir-me

Oro para que estas desavenças não originem

Uma fissura nos laços frágeis tão desgastados
E que esta onda de ternura tão calorosa regresse
Pura e incontrolável, poderosa e eterna

Onda,

Este afeto de rapidez indesejada
Aparenta arruinar-se nas próprias colisões
Onda,
Sem lugar para se propagar
Perturbação de dimensões colossais
Onda,
Inclina-se na ida e volta
De uma prece sem realização

Meus dizeres são documentos para sua essência

E minhas ações ferem a sua gratidão
Sorrateiramente um rancor se depositou
Em pilastras que nem posso enxergar
Mesmo sabendo disso, ainda não lhe abracei

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Nossa chuva

Para onde Caminhar foi, a meu ver, o vale de minha tristeza. O ponto mais profundo do abismo que mergulhei, embora talvez tivesse mais ainda o que descer. Ou, como prefiro ver, era o fundo do mar. Faço questão de dizer com clareza boa parte do que escrevi naquele poema que mais me marcou.

Me via totalmente perdido, tudo era despotado, sem cor, sem vida. E continuar a viver me parecia sem significado, tedioso e monótono, se não doloroso. Era como eu via o mundo, era como eu via como estava. No fundo do mar,um lugar escuro, que me apertava, que me levava, que me sufocava. Frias e pesadas, eram as correntes, tanto do mar quanto de ferro, que me guiavam naquele mundo (ou que me estagnavam, se preferir). E eu continuava a tentar sair de lá, embora só visse escuro a minha volta, estava perdido.

Violação de direitos, que disse ali... Foi como me senti ao ouvir de algumas pessoas que eu tinha porque tinha de melhorar, como se eu não tivesse o direito de estar/ficar triste... Diga isso para alguém que chora, algum dia vai levar uma sova. Era um lugar solitário e, por fim, percebendo que todo aquele oceano foi formado por minhas próprias lágrimas, continuava a caminhar na busca da saída.

Posso dizer que hoje não estou fora daquele mar, mas pelo menos estou em sua superfície. Talvez em algum momento eu afunde de novo, talvez em algum momento eu encontre a terra firme...

Nossa chuva (09/09/08)

Uma gota no crepúsculo

Atravessa célere o celeste
A primeira numa série de eventos
seqüenciados e terríveis como uma torrente
fragilizando nossa oração
e reluzindo em nossa solidão

A confusão que se seguiu

e que inibiu a luz da crença
não tão distante de nós
e ainda indecifrável
mascarada, escondida
voraz perseguidora de anseios
devorou nossa compaixão

É como girar de olhos vendados

Sentindo as gotas frias tocar as costas
E o som pesado das águas abafar sua voz
Por favor, não me deixe

A paisagem que nos pertence

Colorida como o céu nublado
Ainda parece caminhar para longe
Como que sugerindo um rumo a tomar
Umedecendo nossos sentimentos
na nostalgia de nossa história

A chuva que caiu

e que rasgou os nossos laços
em batidas lentas e persistentes
Agora se afasta suave como uma brisa
Como se nada tivesse acontecido
Empecilho egoísta e prepotente

É como cair desacordado

Sentindo seu calor se dissipar
E a força em suas asas se esvaecer
Por favor, não me largue

O ciclo pluvial de erros nos atingiu

Sedimentou o meu coração de pedra
E agora que o sinto despedaçado
Moldo o seu rosto em minhas lembranças
Como se isto bastasse para retornar

É como elevar-se sem liberdades

Observar distante os sorrisos falsos
E caminhar de mãos fechadas, para amenizar a solidão

É como gravar um vídeo do passado

E revê-lo vezes sem conta
Esperando que o tempo também regrida
Sonhando com um novo céu azul

Nossa chuva ainda caina época paralisada pelo choque

E este desejo se precipita entre tantos outros
Por favor, não me esqueça

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Para onde Caminar

Realidade... Esse poema me faz pensar em alguém importante que está se perdendo, assim como eu estava... Embora ache que esta pessoa não queira ser salva.

Para onde Caminhar (29/08/08)

Quando o tempo pára
Até as cores da vida podem desaparecer
Mas as sensações e os sentimentos perduram
Nesta caminhada de passos lentos e dolorosos
Tediosa e sonolenta caminhada...

O desespero que surge em bolhase que se lança sozinho para fora

retirando-me o ar e a consciência
Já é sinal de minha localização

Visões e sombras que circulam a volta da saudade

Tão desorientadas quanto solitárias
Frutos de uma tristeza sem fundamentos
Ainda buscam por sua libertação

Oceano de águas frias e pesadas

Tão espessamente escuras
A perderem em si mesmas
Uma saída para tudo isto

Este breu é reflexo meu

E aonde apenas as correntes chegam
presas a esta terra de água
O ser conflitante está dormente
Há algo que ainda não desapareceu
E está onde as coordenadas são imprecisas

Tateando a areia no fundo de um isolamento

Cortando os pés ao arrastá-los pelo desconhecido
Ainda que não visse tudo que desaba ao redor
Criando um labirinto ainda mais perturbador

Idéia esta vaga o bastante

Para criar mais uma ilusão nesta dor
Está afogando resquícios de esperança
Pois onde há alguém aprisionado não há esperança

Violação de direitos

Um conceito distorcido e macabro
Presente em luzes pertencentes a outro plano
E quanto mais distante da felicidade
Menos resta o que defender

Castelo sem forma

Nascido de um castigo sem berço
Imensurável e intangível
E ironicamente vazio

Inquietação e sufocação

Desejos navegam sobre o esquecido
Onde até o amor já se consumiu
E se espalhou quebradiço no torpor

As lágrimas criaram este mundo

E a solidão acompanhou esta noite
Em que os sussurros inaudíveis permanecem
Tão escassos e esconsos
Quanto as estrelas a iluminar este solo

O sonho segue sem rumo e sem tempo

Forçando para dentro e para trás
Abrindo uma estrada ainda invisível
Nesta jornada de passos lentos e dolorosos
Tediosa e sonolenta caminhada...

sábado, 6 de dezembro de 2008

Realidade

Hehe, que coincidência pôr este título após o post anterior. Mas realmente não foi de propósito. Dei uma pausa nas postagens de poesias para dar continuação ao texto de introdução ao blog. Este pegou até a mim de surpresa. Farei outros depois, se puder. Retorno agora a publicação dos poemas até o final, espero, ou talvez dê outra pausa se algo vier a minha cabeça.

Sentimentos a meia-distância foi, como Per Capita, um poema com um fundo não tão melancólico assim. É como eu o vejo. Era pra ser um poema feito na companhia de outra pessoa (o Fonftka), mas eu acho que o fiz praticamente sozinho, não? (você se incomoda com isso, Fontka?) Porém a verdade é que ele fez junto comigo e eu gosto bastante deste trabalho. Valeu, Fonftka!

Retorno agora a parte dos poemas que eu gosto bastante, apenas Espiral mesmo que não me agrada muito. O anterior também é legal, mas é a partir de agora que eu me comovo mais lendo...

Realidade (29/04/08)

Uma estrela distante, presente apenas nas noites mais escuras
Minha realidade é tão fraca quanto esta luz
Tão difícil de enxergar, impossível de tocar

Na ida e vinda dos dias monótonos, caminho com o rosto abaixado

Sem sorrir e sem chorar, testemunhando fatos alheios de vidas sem importância
Quando farão o mesmo comigo? Quando estes olhares não transmitirão deboche?
Na raridade do encarar, pedidos de desculpas me incendeiam

Vozes tão escassas ultrapassam meu corpo sem mostrarem respeito

Esta divina atenção torna-se melancólica ao desaparecer
Onde é o meu lugar neste mundo confuso? Diga-me
O frio é a minha casa, e o espelho minha companhia
Até mesmo quando as lágrimas afluem em meu rosto

Uma estrela distante, presente apenas nas noites mais escuras

Minha realidade é tão fraca quanto esta luz
Tão difícil de enxergar, impossível de tocar
Aguardo ansiosamente alguém me salvar

Este sorriso forçado que faço ao cumprimentá-los

Esconde pensamentos longinquos e ilógicos
Nesta vida deslocada, não há lugar para uma realidade artificial
A hora de descansar chegou
Sem que ninguém viesse se despedir

Assim como as nuvens, sou carregado por algo que desconheço

Por este vento que muda minha forma constantemente
Apontam apenas para rir e comparar às outras
Preferia estar mergulhado no fundo do mar

Um aquário abandonado, no fundo de um quarto escuro

Minha realidade é tão fraca quanto este vidro
Que sempre nos separou, tão frágil, impossível de trespassar

Um quadro empoeirado, pregado no alto de uma parede

Minha realidade é tão simples quanto esta imagem
Que de tão comum, tão visível, tornou-se esquecida

Uma relação acabada, uma aproximação que nunca começou

Minha realidade é tão fraca quanto esta idéia
Tão cruel que chega a machucar, impossível de cicatrizar
E nesta faísca de vida, aguardo ansiosamente alguém me salvar

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Insônia

Privação do sono; grande dificuldade para dormir; vigília. Se o sonho é a ilusão das ilusões, o que seria a insônia? O oposto da fantasia não seria a realidade? O estado de “vigília” não corresponde conviver com o “real”? Ora, poderia ser esta a solução para aqueles que não desejam se chocar com o fim de um sonho agradável?

Acontece que quando estamos com insônia, algo em nós nos diz para dormirmos, para sonharmos. Há algo em nós que nos faz buscar pelo irreal e a convivência duradoura (ou absoluta) com a realidade pode nos desagradar. Lucubrar demais pode se tornar perigoso. Pois a perda dos sonhos não seria a perda da vontade de viver? E a vida não se faz na “vigília”? Isso me faz pensar que sonhamos para viver e vivemos para sonhar. Um ciclo que se faz necessário para a vida e que pode destruí-la ao se romper. E a insônia é a vilã da miragem que nos faz bem e mal, que nos faz feliz e triste, que nos protege e nos assusta. A insônia poderia romper o ciclo de sonhos que sustentam a vida?

Pobre criatura é o ser humano. Preso a tantos mistérios, abandonado em tantas dúvidas, buscando as incertezas do futuro em pensamentos fantasiosos, e se algo der errado, ainda se lamenta. Pois bem, eu tive uma insônia... E ela esteve se alimentando de meus sonhos...

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Sentimentos a meia-distância

Espiral foi o último poema (deste bloco) que fiz baseado em outra coisa que não fosse eu. Mais uma vez é fruto de minha reflexão sobre o livro (IHH, o qual já mencionei aqui antes) e, sinceramente, é o que eu menos gostei. Não direi em quem ele é baseado, mas para quem já deu uma lida nos .docs que deixo perdido por aí, pode descobrir quem é.

Sentimentos a meia-distância (14/04/08)

Ferido e incompleto, ergo minhas mãos atadas e aponto

Há algo além daquelas montanhas que me pertence
E um dia a pegarei de volta
Basta esta ser uma vontade mútua

Um vidro quebrado reflete seu outro lado

Em ligações inexistentes, confraternizando confusões
A sombra que me segue sem que eu note
que o verdadeiro dependente sou eu

Por tanto tempo estive dormindo

Incapaz de sentir quão incompleto posso ser
As dores que me acompanham na estrada
Será que também foram divididas?

O espelho já não mais pode refletir

A imagem com a qual me acostumei
Aos poucos, deixo que essa sombra distante me abrace
Para que da sua fragilidade eu tire minhas forças

Dançando descontraído em dias felizes

Vejo meu outro lado tão distante
Mas isso não me abala, pois sei que um dia,
certamente, definitivamente, seremos um só
Desde que esta vontade também te acompanhe

Para dentro de terras que desconheço

Vaga a outra metade que me pertence
Acreditando no futuro, abriremos nossas asas
E deixaremos que o vento nos mostre o caminho

Além destas montanhas que separam o mar e o céu

Descansa algo que me pertence
E um dia a conquistarei de volta
Pois sei que, à meia-distância,
Compartilhamos esse sentimento

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Espiral

Per Capita foi outro de meus poemas que não se tratavam exatamente de mim. Este é diferente dos demais por ser mais uma crítica que uma lamentação. Ainda assim, pertence as 13 poesias deste projeto. E imaginar que o fiz quando pedi a um conhecido para escolher um tema para uma próxima poesia e ele disse "felicidade". Não ficou como ele queria e eu não gostei também, haha. Mas depois de alguns comentários de outras pessoas Per Capita passou a ser um dos meus favoritos.

Espiral (16/04/08)

Ouvi uma voz me despertar de um longo e surreal sono

Sonhos multicoloridos passam para um branco sem brilho
Renascer pode ser mais doloroso que morrer para sempre
Se não há uma mão para me segurar

"Uma espiral de essências divide a matéria do inexistente

Para a criação se faz necessária a destruição"

Calor humano não preenche o vazio deixado por memórias falsas

Nem sorrisos substituem uma falecida família
Confusões grotescas aspiram um sombrio olhar avermelhado
E crescem de dentro para fora, numa espiral dilacerante

"Tal como o tornado azul a padecer duas vidas

Originando uma terceira, mísera criatura sinistra"

Marcas do sol morrem na pele,

Sinais do tempo destroem lembranças
O cata-vento agora perdido neste vendaval
Jaz num turbilhão de esquecimento e perigos

"E engasgando a quarta cria do bem,

a torná-la tão presa quanto aqueles tristes servos"

Caindo das nuvens, algo está acima de sua cabeça

Águas mancham tão profundo quanto o azul do oceano
Rios levam a margem do verde enferrujado,
iluminado por baques de metais letais
Urra o sacrifício ao sangrar, caindo num longínquo precipício
Sai a vida, pára o tempo, o fim de um velho dilema

"A verdade permuta o passado, iludindo o presente

E todo o resto escorre na ignorância de uma espiral transparente"

A brisa de hoje é tão nostálgica

Que leva uma pequena vontade de parar meu coração
E descansar acompanhado do vento para acalmá-lo
Junto com todas as dores que foram carregadas

Um dia, com apenas um toque, a roda do tempo voltará a girar

E formará um furacão de eventos irreparaveis, até o fim de uma nova tempestade

domingo, 30 de novembro de 2008

Per Capita

Amor Amaldiçoado foi o meu primeiro poema que não se tratou de mim. O fiz pensando na história de meu livro, IHH (que alguns aqui devem reconhecer) e foi uma experiência nova e agradável. Me imaginar na mente de um personagem e construir uma poesia totalmente dedicada ao mesmo me ajudou a ter uma visão mais profunda da personalidade não só de Lucy, minha inspiração em Amor Amaldiçoado, como a de vários outros personagens. Logo mais teremos outro poema neste estilo e espero que gostem.

Outra, comparando as datas do 4° e 5° poemas, verão que um saiu pouquíssimos dias antes do outro, embora a ordem ainda esteja ao contrário. Foi como eu disse, iniciei numa data mas só vim a terminar depois, e segui a ordem em que terminei. Mas acho que os próximos estão certinhos. Se não estiverem, não faz mal, hehe.

Per Capita (30/03/08)

Um todo divisível, uma conexão desconhecida

A estrada que o tempo mostra é tão diferente da ideal
Tão egoísta que não se vê o que está caído
Nessa eterna procura pela felicidade real

Sorrisos bobos que nada sabem

Entrelaçados em mãos inocentes
Num teatro de marionetes humanas
Até sua respiração é vontade de outro

Sem hesitar, avançamos neste fluxo colossal,

Mal distinguidos entre si como num rebanho
Alimentando os donos de tudo
Nossa felicidade é dividida per capita
Em lotes e caixas de valor concreto

Inaptos, cegos, enganados e descartados

Correria, esforço, suor e queda
Ainda atados a esta regra universal
E a mais regras de origens profundas,
não podemos sorrir por nós mesmos

Ah, que dúvida é esta que atinge a todos da mesma forma?

Ah, o conforto e segurança atuais duram para sempre?
Esta estrutura tão frágil, sujeita a desabar a qualquer hora
Conseguirá alcançar a felicidade a tempo?

O vôo não é para todos nós

Mas há esperança mergulhada em raízes
O que fazemos com este prazer que nos vem tão escasso?
Depositamos em sementes e plantamos em novos seres
Para que haja uma colheita de liberdade

sábado, 29 de novembro de 2008

Amor Amaldiçoado

Não sei se todos perceberam (e espero que não, ou este comentário seria inútil) e, portanto, achei válido ressaltar que os números que acompanham cada título são a data em que fiz o poema. Para ser mais exato, a data em que comecei a fazê-lo. Posteriormente passei para a data que o terminei, mas isto deve aparecer somente a partir da segunda metade deste pequeno grupo de poesias (a partir do 7°, talvez). Então a ordem cronológica de alguns deles estarão embaralhadas e espero que ninguém estranhe isso, hehe.

Outra coisa interessante, pelo menos para mim, é o tempo curto entre os primeiros poemas, todos os 3 primeiros foram feitos em Março deste ano e, na verdade, até mesmo o 5° foi feito em Março. Acho que me empolguei bastante com isso e fiz um monte logo de cara, mas ao longo do ano deixei apenas para os momentos de inspiração e a distância entre cada um deles se tornou maior.

Quanto ao poema do post anterior... Pode não ter sido o começo da minha tristeza, mas com certeza foi o começo dos meus poemas mais tristes. Miragem fala de um homem morto, e fala de mim. Como eu me sentia sem vida e sozinho, como eu via como era caminhar entre as pessoas. Pois bem, eu não morri. Não de verdade, porém algo em mim assim se sentia e isso criou a Miragem. E a pergunta ainda não desapareceu...

Amor Amaldiçoado (01/04/08)

Peça por peça, este quebra-cabeça está desabando

Como a neve a este céu de sentimentos congelar
Distanciando nossas vidas, uma fenda rasga nossa ligação
Queria nunca ter começado a amar

O dilema da distância

Devo forçar-me a uma conciliação
Ou esperar a boa vontade de Deus para isso?
Caso não tenha percebido, seu desaparecer me afeta muito

Irresponsabilidade que retira a presença

Uma maldição caiu sobre nós
Até onde um simples erro pode levar
Para me deixar tão só?

Um luto que excede estações

Chuvas melancólicas, um calor que não é seu
Ao morrer com o verde, o frio não conserva sua imagem
Mas para mim, tudo permanece a desbotar

A pena ainda não terminou, mas não durará muito

O vulto fétido ergueu-se nas sombras
Abrace-me, deixe-me sentir o cheiro de terra molhada
Mate-me, deixe-me sentir o mesmo perecer
Salve-me, a eternidade por si só é um inferno

O purgatório não é o bastante, traga-me mais aflições,

para que esta culpa ligeiramente deixe meu ser
Abrace-me, deixe-nos dividir este momento
Mate-me, meu corpo ainda lhe pertence
Salve-me, a saudade por si só é um inferno

Palavras não descrevem sentimentos

Nem contam perdas precisamente
Esta maldição que caiu sobre nós
Agora dorme gentilmente

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Miragem

Título sugestivo, não? Não, não estou falando novamente do título do blog ou algo do tipo. É apenas o nome de outra de minhas poesias (presente no fim do post).

Quanto ao poema do post anterior... Ambíguo é, particularmente, um dos meus preferidos. O fiz pensando novamente numa menina, pois era minha situação atual com ela e isso tomou meus sentimentos. Creio que alguns aqui a conheçam, pois é a Patricia, ou Pa-chan (ela deve ler isto, espero que não fique triste). Embora não de maneira clara, estou falando ali de como me sentia eu ver minha relação com ela acabar. Como parecia que meus sentimentos por ela estavam sumindo e como aquilo me fazia mal. Estar acorrentado é ruim de qualquer forma (e acho que já estou acorrentado de novo). Falar mais que isso pode me fazer mal, então paro por aqui.

Miragem (27/03/08)

Um mundo que surge de ponta-cabeça,

um enigma fragmentado em lembranças
A rua que a ninguém pertencia está vazia
E a pergunta ainda não desapareceu

Uma multidão caminha depressa

Olhares desapercebidos trespassam corações
Indiferentes a mão que aponta para o céu
Berros do além não alcançam ouvidos

Um fantasma caminha a seguir luzes na cidade noturna

O sonho ainda não acabou e as lágrimas também não
A rua que a ninguém pertencia está vazia
E o reflexo no espelho é uma miragem

Arrastando-se por cantos desconhecidos,

rumando à terra do alívio
Homens continuam a marchar
Para o penhasco que ao fim os levará

Não há mais uma estrela a guiar uma alma à salvação

Nem sol para aquecer o fúnebre núcleo obscuro
Agora lacrado em madeira intocada
Entregue à larvas num prato úmido dilacerado

A rua que a ninguém pertencia está vazia

E aquele que nela passeia é uma miragem

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Ambíguo (e comentários)

Como haviam me pedido (e eu mesmo disse que o faria), vou falar um pouco do poema do post anterior, hehe. Foi minha primeira tentativa com uma poesia e a fiz para participar de um tópico num fórum que frequento, o AMB (http://www.amb.firez.org/), e que falava disso. Gostei do resultado e resolvi continuar a escrevere hoje tenho 14 poemas. Fiz esse primeiro pensando numa menina que chamava de bel, que conheci ainda quando namorava (há uns aninhos atrás =P). Lembro que na época eu não via nada de especial na chuva, mas foi conversando com ela que aprendi a gostar desse fenômeno tão gostoso. Então, pensando naquela época (e no que sentia por essa menina), fiz aqueles versos.

E aqui está o segundo:

Ambíguo (19/03/08)

A eterna luta do homem contra o mal
Um amor tão vermelho quanto o sangue derramado
Tão forte quanto as razões que nos arrastam
E que goteja em nosso ser como mercúrio

Acorrentado por dentro

Seguindo passos alheios dados sobre a areia
O sol está tão distante
E a noite parece infinita
Um dia a vitória chegará, certamente

À espera da pessoa amada

A incerteza nos cobre como o lenço noturno
Memórias levadas pelo vento não voltam

O sentido ambíguo que mata e salva,

leva ao paraíso e ao inferno solene
E destrói as cores de nossa paisagem,
sujando nossos olhos levemente
Quando tudo isso acabará?

Uma viagem interminável

Nos mantem inerte e invisível a tudo isso
Indiferente e solitário ao observar as estrelas
Vejo que fui enganado por você
Mas quando?

Acorrentado por dentro

Seguindo um sentimento que pode não ser verdadeiro
Você está tão distante
E a tortura parece infinita
Um dia a vitória chegará, cegamente

Acorrentado por dentro

Planejando uma vida duvidosa
A morte está tão distante
E o sono parece infinito
Um dia a vitória chegará, inesperadamente

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Lamentações sob o céu nublado

Este é o título do meu primeiro trabalho com composições (ou poemas, como eu mesmo e a maioria das pessoas acham). Trabalho este que já concluí, com 13 textos. Para algumas pessoas aqui boa parte (se não tudo) do que irei postar ao longo dos próximos dias já foi visto, mas não custa nada reler, não é?^^
O diferencial é que pretendo, junto ao poema, postar um comentário meu sobre o mesmo (talvez sobre como me sentia ao escrevê-lo ou falar dos versos mais confusos). Seja como for, aqui está o primeiro:

Chuva de Lembranças (15/03/08)

Gotas frias que percorrem o ar
Tão comuns quantos os dias do ano
Há algo de diferente em você hoje?
O gosto pela chuva ainda está vivo?

O tempo passou,

e levou consigo as dores
Mas quando o cinza escuro cobre os céus
Noto que ainda não te esqueci
E nem das coisas que me ensinou

Mesmo que nunca tenha visto seu sorriso

Sei que no fundo nos amávamos
Um calor longinquo, uma falha bem vinda
Que me fez tão bem, que me fez tão mal
E agora só regride ao ver a chuva

Brigamos tanto só para eu perceber

que no fim escolhi o mesmo caminho que você
Mas agora está escuro demais para te achar
ainda pensa nisso quando está nos braços de outro?

Caminhando numa manhã de inverno,

o reflexo das luzes nas poças me agride
Sozinho, sinto o vento em meu rosto
Percorrer tão fundo em mim
que por um instante vejo uma sombra ilusória

Mesmo que nunca tenha visto seu sorriso

Sei que no fundo nos amávamos
Um calor longinquo, uma falha bem vinda
Que me fez tão bem, que me fez tão mal
E agora só regride ao ver a chuva

E da janela,

Gotas e gotas que percorrem o ar
me perco em pensamentos
Há algo de diferente em você hoje?
Que nada me trazem
O gosto pela chuva ainda está vivo?
Além de uma chuva de lembranças

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A Miragem da Utopia

Se procurarmos num dicionário, encontraremos um significado igual ou próximo a este: Miragem – Efeito ótico, freqüente nos desertos, que faz ver a imagem, de ordinário, em posição invertida. Ou ainda: Visão enganosa. Embora um fenômeno físico real, a palavra “miragem” é freqüentemente usada como “ilusão”. Já “utopia” é usualmente posta como “impossível”, “irrealizável”. Ora, ambos não possuem algo em comum? O impossível também não pode ser uma ilusão? Apenas uma visão enganosa? Com isso em mente, pensei no que seria o engano do engano, a ilusão da ilusão, a miragem da utopia.

O sonho. O sonho é a maior das ilusões. Num sonho podemos viver em lugares diferentes, mais agradáveis (ou não). Podemos ver pessoas que gostamos quando na realidade não poderíamos (ou porque já partiram ou porque estão distantes demais). Podemos fazer coisas que este mundo não permite. Porém mesmo o mais agradável sonho tem um fim, o despertar. E este despertar é a ilusão do próprio sonho, a sua doce miragem que se mostra falsa, enganosa, e que num determinado momento destrói tal mundo imaginário.
Este é um espaço destinado aos sonhos, às doces ilusões sem chance de se realizarem... Sejam elas boas ou não.