sábado, 14 de novembro de 2009

Caminhos

Eis a tarefa que me foi dada de pensar nas minhas possibilidades. Eis a oportunidade de refletir sobre o meu sofrimento e sobre as alternativas não tão visíveis, mas que existem, de uma forma ou de outra, para além de onde minha força consegue alcançar.
Por isso aqui estou, a escrever, e pensar, e revirar. Revirar o que já foi dito e sentido, e tido e perdido, perdido para algum lugar além de onde a esperança descansa. Descansa esperando o seu retorno esperançoso, torcendo para que no fim não fique rançoso. Enfim, esperando um caminho de mudança.
Não há, de fato, um único caminho sem volta e de puro perecimento. Mas também não há, e este fato é mais do que inegável, uma escolha sublime que me fará melhor. Seja por agora ou no futuro breve.
O que resta, sem dúvidas, é o mero planejamento de um amanhã livre. Livre das pressões insensíveis, sem fundamentos, das forças cegas que só destroem. Das visões divergentes que engolem o que deveria ser construído.
E enquanto planejo vejo as possíveis rotas para o final feliz. O final que alcançarei, não com as minhas forças, mas guiado por uma luz que não pode desaparecer da minha vida.

Hoje estou mergulhado num desespero crescente. No medo. Não medo de me perder, mas de perder a luz. E para não perder esta luz é que me sujeito às dores. Enfrento-as sem enfrentar de fato, e a minha alma termina lanhada por um açoitamento sem limites. É simples. É fácil. A descrença machuca, as cobranças também. As palavras falsas, repletas de desculpas que tentam ocultar a verdadeira culpa. Tudo isso eu já sei.
Tudo isso suporto para ficar um pouco mais próximo de minha luz. Temendo perdê-la, até que o tempo de vê-la chegue. Está perto, mas parece tão impossível agora. Não quero acreditar que vai falhar. Isso me faz dizer "vai dar certo, eu vou conseguir" para mim mesmo o tempo inteiro. Mas e a verdade? Eu não sei...

Se eu pudesse mudar, mudaria. Mudaria para uma forma menos agredida (e mais agressiva). Mudaria aos pequenos moldes tão desejados por aqueles que enfrento, não por sucumbir às suas vontades, mas por usar isto a meu favor. Para construir o meu caminho até a luz. Mas temo fazer isso. Temo desviar o meu olhar desta luz e me perder. Não me perder em mim mesmo, mas perder a luz em si. Parar de alimentá-la e deixá-la morrer, de forma que não a encontraria mais por deixar de existir. Ela e eu. E assim, morreriam os sonhos, a vida, e até mesmo as lembranças. Tudo morreria. Murcharia. Apodrecendo no vento seco. Apodrecendo no ar repleto de palavras duras.

No entanto, penso agora, penso nisso desde quando a idéia surgiu. Desde quando o planejamento nasceu como um relâmpago para iluminar uma vez o meu caminho nessa névoa. Penso em seguir em frente. Seja lá pra onde a frente me levar, mas seguir em frente... Vai doer, vou sofrer, mas no fim, vou ver a luz. Vou forçar, vou brigar, e estou quase me rebelando em mim mesmo, expandindo a alma tão comprimida, prestes a perder tudo por um pouco mais. Apenas por um pouco mais...

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Caixas

A essência deste relato não pertence a mim. Na verdade, a essência está em mim, mas a inspiração veio de fora. Trata-se somente de caixas, mas são diferentes da visão que temos normalmente. É exatamente a mesma sensação, como se fosse um reflexo, de modo que entendi aquilo como se tivesse sido pronunciado por mim. É, de fato, o mesmo medo...

Um sonho. Descobrir o que se gosta é realmente um sonho, depois de uma espera tão grande, de uma dúvida sem tamanhos e de uma sequência histórica da vida tão pesarosa. O tempo avançando e a pressão quase te esmagando por ainda estar tão arduamente relutente a escolher um caminho para si. Descobrir-se no seu mundo, no seu espaço, é como a ilusão de uma pintura que sai da tela, que te toca e acaricia. Mas, ainda assim, não é o fim, restam muitas coisas para serem feitas, muitas caixas para serem abertas.
Aí está o medo, o receio de não saber até onde se pode ir. Não por esperar menos de si, mas por saber que tão ampla são suas escolhas, seus projetos, seus desejos, e o tempo miseravelmente curto. É saber que se está numa zona aparentemente estreita, coberta por uma penumbra misteriosa de sua própria mente, e que conforme você avança no seu espaço, clareia um pouco mais sua alma para revelar as caixas depositadas neste solo. No seu coração. Ali estão, eu posso ver, mesmo que no momento apenas uma dúzia delas, sei que dentro desta névoa escura e espessa estão tantas outras. Um sem número delas, me esperando para serem abertas, descobertas, trabalhadas.

Os passos são limitados, predefinidos numa quantidade não revelada. E sei que não poderei caminhar para sempre dentro de mim mesmo, em busca de tudo que sou capaz de fazer. De criar. E pensar nisso é um tanto assustador. Mais que frustração ou decepção, apenas medo. De ser capaz e não ter capacidade. De ter pernas e não poder caminhar, porque as caixas são ilimitadas para estes olhos quase cegos.
Não pretendo fazer nada apressado, não quero correr para avançar em passos largos o que os meus passos tão curtos não poderiam alcançar. O segredo é começar antes, começar mais cedo. Fazer tudo no tempo que deve ser feito, enquanto o sol ainda raia todas as manhãs e me espera quando vai dormir. É fazer tudo enquanto essa luz toca o chão onde as caixas me aguardam. Pois quero abri-las uma a uma, desenterrar o que há em seu interior e montar obra por obra, com cautela e dedicação, encarando um medo que sei que jamais irá desaparecer.
Pergunto-me se este medo é comum para os que criam. Parece tão distante dos comentários cotidianos, das pequenas vontades de fazer cada dia um dia especial. Uma questão sem resposta, esta das caixas? Ou apenas uma questão que não quero solução?

Tudo que sei é que enquanto houver dúvida e receio, haverá também a vontade de prosseguir e experimentar...

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Visões divergentes

Se a imagem que se julga ver em sonhos, seja por medo, por loucura, ou por um desejo indescritível pode guiar a sua vida, o que diria sobre duas imagens se sobrepondo numa colisão destrutiva? Ambas com intensidades próximas, de origens próximas, mas essencialmente diferentes.
Visões originadas em diferentes pontos, pontos distintos e ao mesmo tempo tão parecidos. Cada uma em sua dimensão, mirando um trajeto diferente, lançando-se de forma a engolir tudo que esteja no caminho apenas para chegar onde se almeja.
E repentinamente, a colisão. Um choque. Como um raio atingindo o solo. E tudo se torna confuso. Até o presente momento era apenas o ardor, a vontade, o horizonte desaparecendo à medida que se aproximava dele. E em seguida tudo estava para o ar, de ponta-cabeça, voando desajeitado sem um destino certo, sem outro rumo que não seja o caos e a perdição.
Destruição causada por conflito. Armado e inesperado. Programada artimanha, astuta e imbecil. Um trabalho irracional, feito apenas para ferir, somente para perecer em sua própria ordem insana. E assim tudo desaparece, as duas visões, antes tão poderosas, agora jazem desgastadas de tanto se enfrentarem. Jazem lanhadas e fatigadas delas mesmas, da disputa irrelevante, da verdade divergente. Cansadas da visão que nada vê, da vontade que perdeu o foco de seu desejo e agora sangra em lágrimas desesperadas.
Sem rumo, sem rumo!
É preciso aprender a contornar para não lutar batalhas inúteis. É preciso parar de perseguir o que te leva pra trás. É preciso encontrar paz.
Mas nada disso é fruto das visões divergentes, se não a calmaria após a guerra. Falsa calmaria, assim como outro desejo a não ser destruir sonhos.

E tudo começou em pontos distintos tão próximos...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Aniversário

Postagem tardia. Mais precisamente, com 10 dias de atraso. E juro que gostaria de ter feito isto antes, mas parece que o texto fugiu de mim, e eu não tive coragem de ir atrás do que faltava com o que me restava dele. Assim sendo, o abandonei, deixei de lado de vez. E de vez nascera outro, talvez próximo, talvez não, nem eu sei. Apenas sei que veio e que desta vez saíra, por isso escrevo, e aqui escrevo o que acho que devo. Peço desculpas pelo atraso.

Aniversário

Dia em que se faz ano(s) que se deu certo acontecimento, ou em que se completa(m) ano(s). Uma data. Basicamente é isso, apenas uma data. E por que damos tanta importância para isso? Que motivos realmente temos para dar valor a uma data? Apenas um marco como tantos outros, um ponto que compõe nosso universo tão pontilhado como o céu estrelado. Mas é assim que somos, nos prendemos a detalhes, às vezes insignificantes, mas que para alguém pode estar recheado de significados. Aniversário seria então apenas um detalhe? Algo que pode passar despercebido por muitos, mas para os que conhecem o paradeiro deste ponto no universo, como se tivessem em suas mãos um mapa e uma marcação de um tesouro, sempre podem voltar suas atenções para algo importante uma vez por ano? Pensando deste modo, podemos dizer que o mapa é o calendário e o tesouro é o aniversariante (mais do que os presentes dados a ele, obviamente). De modo que alguns se juntam em torno deste tesouro para admirá-lo com mais cautela de vez em quando, especialmente em datas realmente especiais. Datas recheadas de significados, um marco.
E nada mais que isso, uma data. Sem valor mesmo ao ser lembrada, porém valiosíssima se associada a algo que realmente pode ter algum merecimento.
Dia em que se faz ano que se deu certo acontecimento. Um acontecimento que merece ser devidamente comemorado, se assim quiserem. E, de fato, merece. Em alguns casos há de se concordar, e este é um deles. Se for algo importante, é necessário, se faz necessário. Não por obrigação, mas por uma grande consideração. Consideração gerada por amor e amizade, consideração que dificilmente se apaga, uma vez que se apega a ela. E sendo verdadeira como esta data, também será duradoura, e dentro dos ciclos dos anos, se repetirá em manifestações claras de alegria, saudade, compaixão, e tantos outros sentimentos difíceis de se listar.
Apenas uma data, como outra qualquer, um marco no tempo como uma estrela no céu. Está lá, visível e brilhante, em seu sublime esplendor quase imperceptível aos que não querem notar. Mas está lá, de verdade.
Apenas uma data, mas uma especial.
Feliz Aniversário.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Dependência

Vazio crescente. Dimensão imensurável imersa em escuridão. Luz tangível escorregadia, caindo em pedaços no vácuo celeste, prestes a desaparecer. Sensação indescritível, falta sem limites, ausência ensurdecedora. Dependência de olhos...
Um, dois...
O tempo passa. O vazio aumenta. Mãos presas à parede, tão imóveis e impotentes. O rosto grudado no cimento frio, a voz gélida sem alcance, tentando trespassar a barreira da penitência, tentando trazer de volta o ar tão necessário. Lacrimejando, os olhos que nada vêem pedem uma luz guia. Pedem o retorno de suas forças.
Três, quatro...
Depêndência. Todo instante é eterno, toda eternidade é momentânea. E cada respirar se faz mais difícil, cada toque mais insensível. O tato esvai-se nas perdas. Lentamente, de mãos dadas a pedra imóvel, a cabeça agredindo a si mesma, nada parece fazer sentido.
Cinco, seis...
Sangue pinga misturado ao choro. Uma lágrima na chuva. Destino inexorável.
Sete, oito...
Desespero aumenta, os pensamentos começam a jorrar numa cachoeira de angústias. Saudade aperta. "É cedo, é cedo."
Nove, dez...
Loucura. Os batimentos cardíacos contam o tempo passado. Tempo cada vez mais curto, mais acelerado. "Tão distante, ainda é tão distante". Caindo no chão da pequena sala deserta, sem luz, sem água. Apenas a dependência. Encarando seu inimigo de frente, restam apenas os ecos de um coração abatido.
Onze, doze...
Treze, catorze...
Dependência.
Quinze, dezesseis...
Todo instante é eterno, toda eternidade é momentânea.
Dezessete, dezoito...
A respiração morre.
Dezenove, vinte...
Os olhos se fecham, restam apenas os ecos de um coração abatido.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Um vislumbre da Utopia

Conforme o tempo avança, tudo que está regido por ele também parece avançar. Embora às vezes este "avançar" soe como um "retroceder" ou um "ruir", o término de um projeto pode ser considerado um avanço até o final. E o que há no fim? Nada? Tudo? Um resultado para cada coisa, para cada circunstância e história é o mais provável. Sempre uma resposta diferente. Do tudo ao nada e do que parecia irrealizável a, repentinamente, um sonho concretizado, tudo conforme o avanço do tempo. Da mais profunda agonia e solidão, emergindo destas trevas um sabor totalmente novo - e prazeroso -, sentir desta forma indescritível a resolução programada pelo tempo pode ser realmente um leve toque da perfeição. E chorar por isso. Chorar na imensidão de fortes sentimentos que podem surgir. De todos os lados, de todas as maneiras, por dentro e fora, de cima abaixo, pequenos ou grandes. Não importa. Não há lógica.
O tempo avança, e neste andar tudo pode avançar em seu ritmo. Um "ruir" tão doloroso pode acarretar num "gerar" tão maravilhoso. E das sombras vem à luz, e com ela tudo que brilha, e novas memórias sob o novo elemento descem dos céus, faz-se tudo novo sobre o velho, tudo bom sobre o ruim e tudo criado sobre o destruído.
Um vislumbre, apenas um único vislumbre. A perfeição que pode ser tocada de leve, acariciada, e desejar que nunca se afaste, que nunca se apague ou vá embora. Um vislumbre que o tempo trouxe ao avançar, um sonho despertado que almejou um desejo irrealizável, e dormindo sobre si mesmo cruzou a linha para tornar concreto o que era imaginário.
Um vislumbre. Um deslumbre. O tempo avança.
E com este avançar, um sonho realizado gera a partir das suas ruínas um novo sonho, um desejo que ao dormir sobre si mesmo poderá tocar na perfeição de se concretizar, um vislumbre da utopia, a chance de ser eternizado. A chance em apenas um toque.

E nestes olhos cegos pela distância, outro vislumbre de uma utopia escura se tornando clara, produz em seu interior, a certeza de que o tempo avança e tudo muda. Tudo. Até a fraqueza dos sonhos adormecidos.

domingo, 2 de agosto de 2009

Sentimentos: escolhas e receios

Se uma das definições para sentimento é a capacidade para sentir, temo dizer que estou mais apto a isto do que gostaria. Em dados momentos, claro. Ter capacidade, aptidão, disposição natural para sentir não quer dizer que seja obrigatório sentir. Poder controlar seus atos, pensamentos e sonhos é algo corriqueiro para todos nós, embora não o façamos em totalidade. Dentro desta outra capacidade, a de sentir, será possível também escolher sim ou não para algumas coisas, mesmo que inconscientemente? Será possível fugir das escolhas consideradas prejudiciais? Teimar de fato para seguir num caminho próprio, em total razão própria, vontade própria, aptidão própria, sem pouco se importar com as consequências, ou pensar nelas de forma tão fria que não se incomodaria com o resultado.
Será?
Se sentimentos são receios, uma espécie de medo tão incontrolável que vem e arrasta como uma enchente qualquer lógica, escolha, capacidade ou aptidão nossa para a vala e vai, de seu modo egoísta, guiando toda a vida para um rumo receoso e inevitável, um destino inflexível e soberano. Não sei dizer. Apenas não sei.
Sou eu que escolho sentir ou o sentimento me escolhe para sentir? E quanto às demais pessoas? Há resposta? Creio que não. Mas há algo que persiste, uma capacidade, aptidão e poder próprio para decidir lutar contra a corrente e negar qualquer escolha feita por esta, mesmo que ela habite no interior, e cresça, e diminua, e machuque ou afague. Viva, morra, ressurja, se esconda e lute outra vez. Inimigo impossível de se eliminar de vez, mas sempre há a opção de repetir eternamente a mesma escolha, e sofrer a mesma consequência para todo o sempre.

Sentimentos: escolhas e receios entrelaçados que como uma corda nos puxa para o alto ou nos sustentam enquanto caímos. E sem fugir, hoje carrego uma destas cordas comigo, escolhendo aceitar, apenas aceitar, as decisões que cabem a mim.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Um abraço por correspondência

Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoa ou coisa distante ou extinta. Pesar pela ausência de alguém que nos é querido. Esta é a definição do dicionário para saudade. É certo que, de alguma forma, possamos entender o que significa através de palavras, mas como outros sentimentos, e a partir da própria palavra, sentimento, entendemos que só podemos compreender a magnitude destas coisas... sentindo-as. É como a gravidade, sempre existente para nós, e mesmo assim entendida despercebidamente, por assim dizer. Vai e volta, o que sobe, desce, o que parte, volta, o que nasce, morre, e quando você sai, você tem de voltar.
E a saudade cresce, aumenta, e deveria morrer, porque nasceu, mas não morre, nem adoece, nem enfraquece. Adormece, mas dormir implica em acordar e despertar sugere em abandonar os sonhos, a utopia, toda a miragem que é viver distante e encarar o fato de estar longe do que queria. Ou de alguém. E sofrer por isso, sofrer de modos distintos. Sofrer por querer abraçar, por querer beijar, nem que seja o rosto, desejar incessantemente um toque, um olhar, e ter de esperar para ouvir, quando se pode. Saudade é esperar, é aguardar dentro de um casulo que a luz penetre pelo buraco que se faz com tanto esforço, rompendo os fios nos quais você mesmo se enrolou, ou se deixou enrolar, e se tem mais trabalho para fugir do que para entrar.
Saudade é desejar poder enviar que seja um abraço por correspondência, e imaginar a expressão de quem o pegar dentro de uma carta, como se seus braços pudessem sair do papel e segurar firme quem está no destino. Sitiá-lo, circular e prender, puxar de volta pelo mesmo caminho que a correspondência, sonhar e sonhar com o momento do reencontro.

Às vezes imagino que saudade seja esperar dormir, para lá encontrar quem deseja. Outras vezes imagino que saudade seja, na verdade, o sonho em si, que se realizou, como um relâmpago, que brilhou forte por um instante e apagou, e agora só resta esperar outro relâmpago aparecer. Seja como for, o clarão continua, tornando-se mais intenso e duradouro a cada repetição. Assim sendo, um dia, o relâmpago se tornará um sol...

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A Constante Mudança do Imutável

A persistente estabilidade do inabalável, por vezes, me parece carregar de lado a lado, gentil como um balanço de ninar ou forte como um chacoalhar para despertar, alertar, assustar. E no doce sono, coberto por esta calorosa sensação de segurança, os olhos fechando vagarosamente, manchando toda a visão, prontos para tornar tudo branco e depois tudo preto, algumas coisas parecem terem se acalmado finalmente em minha vida. Ao mesmo tempo, na surpresa, retornando a vigília, o coração disparado e uma vontade insaciável de perceber as transformações alheias ao meu ser, no ambiente onde resido, reparo que de certo, algo mudou.
Deveria mudar, pois é isso que esperamos todos os dias, afinal. Pois é isto que espero. E espero. Afinal, espero sem ter a certeza de que enfim a mudança chegará, porque a torre onde se encontra tudo que me passa, passou e talvez passe no futuro esteja onde sempre esteve. Difícil de derrubar sozinha, para não dizer impossível. Invisível por parecer crescer para baixo ao invés de para cima, aprofundando em mim mesmo, rumo ao centro, ao coração, como a ponta de uma faca desejosa por fincar de vez o desejo de correr e se libertar. Inútil, admito.
Em outro momento parece mais calma, como se de uma torre mudasse para um túnel que leva o que há dentro para fora e o que há fora para dentro, num escambo inesgotável de experiências e pensamentos que por fim sempre retornam para o seu lugar.
Brincadeira de mau gosto.

Jornada em círculos? A ilusão que faz um lago parecer oceano? Talvez seja apenas uma época transitória aparentemente rígida como o gelo, mas que na época certa se tornará a água que me lavará.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Quando a névoa se dissipa...

Será que existem momentos em que todas as manhãs parecem enevoadas e todas as tardes se assemelham a tormentas? E a calmaria, quando vem, é apenas durante a noite? Sem uma luz forte o bastante para guiar, sem um rumo certo para seguir. Às vezes, sem sequer saber onde está.
Creio que a maior de todas as névoas é a que reside dentro de nós, e que nos impede de tomar um rumo quando tanto precisamos de um. Ainda assim a névoa tem de ir embora em algum momento, e foi aí que pude enxergar a intensa luz do sol. Uma luz forte o bastante para me salvar.
Foram poucos dias na luz, mas a lembrança destes dias me guiará para o futuro que tanto almejo, certamente.

Compreendo perfeitamente que quando a minha névoa se dissipa... É a hora de contemplar o horizonte, antes que ela retorne...

sábado, 14 de março de 2009

Cegueira da Alma

A busca pelo entendimento de todo o incompreensível é extremamente antiga. Idéias hoje absurdas ainda surgem na mente das pessoas a todo o momento, procurando uma liberdade que pode ser maior que a física, a liberdade da alma, da mente.
Algumas pessoas, no entanto, acreditam tanto naquilo que lhes é apresentado que se perdem na hipotética explicação. Perdem, no fim, a razão. A verdade é uma para cada um, em muitos pontos pode se convergir, mas, no fim, é única para cada ser. Sem a razão para manter seus pés no chão, essas pessoas flutuam em delírios e bombardeiam os chamados "incrédulos".
Uma liberdade imposta pode ser mesmo uma liberdade? A tal verdade pode ser verdade antes de ser questionada? Se tudo que lhe é dito sempre precisa ser ponderado, de onde vem a idéia de que se pode julgar o outro de maneira tão autoritária? A hipocrisia habita a alma de todos que se acham superiores... De todos que se acham certos...
Cegueira da alma! Perdidos numa doce escuridão que parece perfeita, no silêncio da ignorância eterna, fingindo uma vida, crendo numa falsa liberdade.
Um dia, talvez, eles descubram o quão mal são capazes de gerar crendo que estão fazendo o certo. Tenho pena dessas almas perdidas. Tenho raiva desses seres cegos.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Zero

Diz-se que a descoberta do algarismo "zero" ocorreu apenas em três povos e que posteriormente fora divulgado na Europa, já na Idade Média. O "meu zero", assim como o da matemática, também foi encontrado posteriormente a divulgação dos outros números. Uma surpresa, sim, porém de fácil aceitação. O tempo é remoto, com uma estimativa imperfeita e até mesmo inútil, mesmo que eu a tenha feito. Não importa, no momento, pensar muito nas origens do "meu zero", prefiro entregá-lo a outra pessoa uma vez que a primeira jamais verá este trabalho, agora modificado.
Dedico assim o meu "zero", no sentido de aquele que antecede todos os sentimentos, todos os trabalhos, todos os desejos... e não a ausência deles, a pessoa que está presente nestes momentos aparentemente vazios, mas recheados de significados para mim...

Retorno à luz (??/??/03)

Quando a escuridão já parecia rotina
Você veio para a minha vida
Como o sol vem pela manhã
E em todos os dias
A certeza de encontrar a paz em você
Até as trevas retornarem de seu descanso

Hoje está tudo escuro

E a vida como noites eternas
Num coração perdido na própria ignorância
Enfraquecido em sua incapacidade
Atordoado no desespero da sua ausência

Sentir seu calor não é necessidade

Mas a esperança de ter seu amor é
Na perdição resta somente a dor
Como lidar com esta saudade?

Caminho esconso, labirinto de estrelas

Clamo encontrar uma saída
O retorno à luz
E desejar mais de uma vez
Que você seja para mim
Mais que um dia ensolarado

E o meu sol poderá voltar

Amanhã
O retorno à luz
O despertar de um pesadelo
E o descobrir do seu sorriso

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Ódio fumegante

De um dia para outro o sonho quase se despedaçou. Um período tão curto que não deu tempo de assimilar a ameaça e acendeu e apagou tão depressa. E por sorte apagou, por enquanto. Viver um sonho é complicado quando qualquer pessoa pode te despertar. Pior é quando quem mais quer te despertar é alguém que odeia. E por um instante tudo parece girar, apenas para cair exatamente onde estava, aborrecimento inútil.

Mas foi este aborrecimento que despertou certa "agressividade" que buscava faz tempo, para um outro trabalho, que guardava para mais a frente. E para que tanto planejamento? Mostro aqui a resolução de um dia recente, de um desejo antigo.



Ódio fumegante (26/02/2009)

Intransigência não é uma arte
Para você exibir orgulhosamente
Suas ações caem como toras
Numa pilha de sujeira e desgosto
Pairando com este odor de fumaça e embriaguez

Há cerragem posta sobre seus olhos

E que se deposita no seu corpo gentilmente
Suas agressões se espalham como faíscas
Transformando todo o cenário feito para você

Queime tudo

A vida, a casa, o passado
Leve tudo de volta ao tempo, pois este não cura nada
Finda a sua história, torne-se pó
Fumegado em seu próprio ódio
Torne-se cinzas de ira
E vá embora com o vento

Você não vive num mundo de estátuas

Onde todos posam de forma semelhante
Pretende caminhar entre todos como o único errante
E a ausência de cor tranquiliza seus olhos
Até o momento que tudo desaba perante sua ridicularidade

Há papéis a volta de seu quarto

Contando os nomes daqueles que te odeiam
Quanto mais se rasga, mais nomes caem sobre você
Afogando toda a segurança que pretendia obter

Incinere raiva

Sozinho, caindo, nas trevas
Arda ao tocar os frutos de seus pecados
Finda a sua prece, apenas uma mancha escura
Punido em seu próprio rancor
Torne-se restos de ira
E deseje um lugar para descansar

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Fragmentos da mente

"Eu crio o que posso sentir. E sinto o que posso criar."
Incrível como podemos absorver parte de coisas que nós mesmo fizemos. Emergir sentimentos que antes eram desconhecidos e beber destas mesmas sensações. Banhar-se num poço de seus próprios fragmentos. E sofrer por isso.
Ser capaz de mudar a si mesmo usando sua mente? Ser capaz de adoecer somente porque seu coração pediu? De fato, nossa mente possui poderes estranhos...
Confesso que estas experiências trazem também um conhecimento curioso. Estas novas sensações me fazem sentir mais próximo de coisas que não são minhas, de vidas "alheias". Alguns sonhos nos assombram até quando acordamos ou nós mesmos que não os puxamos para a nossa realidade?
Me pergunto o quão perigoso estas coisas podem ser.
A resposta? Só tentando...

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Dois anos de Ilusão

Hoje completo dois anos desde o surgimento da ilusão mais importante de minha vida. Data que marca uma divisão em minha história, certamente. Separando uma época de total ignorância de uma onde, ainda que esteja em construção, uma réstia de luz paira distorcendo esta realidade desbotada. Ilusão esta dividida também em fases, algumas delas seguindo uma ordem cronológica, e outras, totalmente atemporais. Descreverei aqui parte dessas fases que para mim são tão importantes, misturando o sonho, a ilusão, a vida e a minha realidade.

“Cidades pequenas são apenas descanso para viajantes, principalmente para aqueles que estão buscando algo que a cidade pequena não pode dar. Um lugar pequeno e confortável onde todos são gentis. Um lugar onde nada acontece e todos são sinceros. Um lugar que não muda, e não muda nada nem ninguém... Ou pelo menos assim deveria ser. Queria que esta cidade fosse assim também, para mim, esta cidade mudou a minha vida.”
Imaginemos um mundo inteiro para se vagar. Verdades, cores, pessoas, situações. Sem nos prendermos a objetivos e lugares, apenas assistindo de tudo. No momento em que sentimos grandes perdas, às vezes irreparáveis, nos voltamos para uma busca com a finalidade de aliviar os sofrimentos. Imaginemos então apagar tudo, refugiando-se de tudo e transformando o imenso mundo numa pequena cidade pacata. Lá, encontramos pessoas que nos fazem sentir parte de sua família. Pessoas diferentes, porém boas. A princípio, essa nova “casa” parece temporária, mas aos poucos vamos acostumando-nos com aquela incômoda e refrescante presença, com a alegria que nos proporciona, com a saudade que nosso coração sente ao criar raízes ali. Por fim, a mudança, percebemos então que mudamos inesperadamente.


“Ódio. Um sentimento estranho. Quando nos movemos a partir do ódio não nos preocupamos com as conseqüências se o resultado desejado for alcançado. Não acha que o ódio se compara ao amor? Também nos movemos sem nos preocuparmos com as conseqüências até o resultado desejado se concretizar. Se o ódio nos levar a matar alguém, o momento da execução é levado como um momento de eterno prazer. Um momento de loucura pouco justificável, mas existente. O amor também é assim? Um momento? Talvez seja por isso que eu tenho tanto medo destes sentimentos...”
Uma vez que a vida sempre muda, nos vemos então perdidos entre sentimentos conflitantes e de pouca razão. Começo a odiar tudo, a odiar todos. Todo o ambiente começa a se modificar, as pessoas antes tão calmas e esperançosas mostram suas presas. Os inimigos aparecem então tudo é jogado no pequeno palco. Está na hora de abdicar tudo novamente.


“Amigos? O que posso falar deles...? Considerados o porto-seguro das pessoas, amigos permanecem ao lado em todos os momentos. Superando até a família em certos casos, principalmente quando se trata de importância ou presença. Quando estamos entre amigos sempre nos sentimos melhor, se estes forem verdadeiros. Dizem que mesmo os piores tipos de pessoas têm amigos. Esta é minha opinião, embora não seja apta a falar disso, pois não conheço direito a amizade...”
Se a raiva fez perder outra vez coisas importantes, agora só resta continuar a caminhar. Quem não parecia assim tão próximo, aquela pessoa que sempre lhe disse fazer parte da família revela ter sido sincera todo este tempo. Uma aproximação que mudará tudo, uma viagem de união. Nesta caminhada vemos pessoas que mostram toda a força de sua amizade. Vemos pessoas que por mais que estejam sempre brigando, tem a amizade como o alicerce de suas relações. E vemos pessoas que apesar de suas aparências, sempre nos ajudarão quando precisarmos.


“Caos. Vazio obscuro e ilimitado. Grande confusão ou desordem. Coisas como essas sempre passam em nossas cabeças quando falamos em caos, inconscientemente. Sem forma definida, temperatura ou consistência, algo vago demais para entender, não acha? Ainda que usem este termo inúmeras vezes, sinto que sempre levam para o lado ruim, quando às vezes é realmente necessário um pouco dele, conforme aprendi. Mas se eu tivesse que atribuir uma cor ao caos, não seria uma coloração escura, como um preto ou um roxo escuro. Mas sim uma cor clara... Um branco talvez... Sim... Um branco tão claro quanto à neve daquele lugar e que me recorda do caos que vivi naquele tempo...”
As lembranças da perda, a origem de toda a viagem, a saudade de um tempo de inocência, estas coisas realmente são capazes de nos corroer por dentro? Até quando a paz é construída por nós mesmos? Até quando a trilha que seguimos é segura simplesmente por ser usada por outros? Um dia o caos virá e resta apenas a nós acharmos a saída dele.


E aí me encontro, nesta nova fase dentro destes dois anos, quando o Caos retornou. Mas uma coisa é certa, esta ilusão está longe de acabar...

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O tempo não volta atrás...

...mas as pessoas podem, pelo menos estas estão mais próximas do "regresso" que ele.

Creio que muitas vezes desejamos voltar no tempo para mudar algo que fizemos e deu errado. Uma grande perda. Um fracasso mais que frustrante. Mas o tempo não regride. Para nós, resta apenas duas opções: ou paramos e vemos tudo se movendo, como que estudando uma nova alternativa ou simplesmente deixando tudo desaparecer; ou continuamos a nos mover, a mudar e, eventualmente, mudamos para bem próximo de quando éramos em algum tempo.
Esta mudança semelhante dá a impressão de retroceder? Talvez seja tão sutil que passe despercebido uma idéia assim.

Alguns momentos parece que apenas saltamos. Em poucos instantes tomamos uma altitude completamente diferente da que estamos habituados e no momento seguinte voltamos ao chão. Às vezes estas quedas machucam, ainda assim, estamos diferentes de quando começamos tudo.
É como me sinto agora. Caí, e mesmo que esta queda me faça pensar que voltei atrás, não voltei. Foi apenas uma mudança, porém uma que machucou.

Lacrado. Talvez fosse a palavra mais próxima de como me sinto agora. E num breve instante de liberdade, escrevi um pouco de como me sentia. Não era o que queria fazer, mas não comando o que sinto. Quanto a todo o resto, outros projetos, estes escondem atrás de um sorriso que não é tão sincero quanto deveria.
Espero voltar em breve, e que este retorno não seja apenas para mostrar uma alternativa inesperada.

Olhares distantes (13/01/09)

Nossos olhos miram diferentes janelas
A paisagem expressa em nós mesmos
Revela qual futuro desejamos alcançar
Por isso estes desenhos nunca se completarão
E não adianta apenas olhar suas costas

Há alguém que dita para qual janela olhar

Uma imagem verde e triste contrariando o rosto risonho
Mas o seu coração, assim como o meu se difere em cores e formas
Cores rústicas em quadros de lágrimas
E o seu rosto oculto por máscaras

Um toque, uma mancha

Sem dor, sem chance
Um adeus, um olá
Sem saudade, sem amar

Para qual horizonte seus olhos apontam com tanto fervor?

Certamente não é o meu...

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Solidão

O estado em que se acha ou vive só poderia ser mais intenso quando temos consciência de estarmos sós? Ao cair no sono, tudo e todos não passam de fantasia de meu próprio coração, como fantasmas às vezes cômodos, figuras inexistentes que podem amenizar as dores. O leito está vazio, há apenas um corpo retorcido pelo frio preso nas correntes de sua própria mente, como alcançar a saída? Como despertar sua própria força? E mesmo que o fizesse, quem garante que haverá outras pessoas ao acordar?

Prefiro pensar que em algum momento alguém adormecerá junto a mim e assim, ao sonhar, terei a certeza de que tal ser existe e que está comigo... Assim, nem o céu magenta da noite me causará medo.