quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Visões divergentes

Se a imagem que se julga ver em sonhos, seja por medo, por loucura, ou por um desejo indescritível pode guiar a sua vida, o que diria sobre duas imagens se sobrepondo numa colisão destrutiva? Ambas com intensidades próximas, de origens próximas, mas essencialmente diferentes.
Visões originadas em diferentes pontos, pontos distintos e ao mesmo tempo tão parecidos. Cada uma em sua dimensão, mirando um trajeto diferente, lançando-se de forma a engolir tudo que esteja no caminho apenas para chegar onde se almeja.
E repentinamente, a colisão. Um choque. Como um raio atingindo o solo. E tudo se torna confuso. Até o presente momento era apenas o ardor, a vontade, o horizonte desaparecendo à medida que se aproximava dele. E em seguida tudo estava para o ar, de ponta-cabeça, voando desajeitado sem um destino certo, sem outro rumo que não seja o caos e a perdição.
Destruição causada por conflito. Armado e inesperado. Programada artimanha, astuta e imbecil. Um trabalho irracional, feito apenas para ferir, somente para perecer em sua própria ordem insana. E assim tudo desaparece, as duas visões, antes tão poderosas, agora jazem desgastadas de tanto se enfrentarem. Jazem lanhadas e fatigadas delas mesmas, da disputa irrelevante, da verdade divergente. Cansadas da visão que nada vê, da vontade que perdeu o foco de seu desejo e agora sangra em lágrimas desesperadas.
Sem rumo, sem rumo!
É preciso aprender a contornar para não lutar batalhas inúteis. É preciso parar de perseguir o que te leva pra trás. É preciso encontrar paz.
Mas nada disso é fruto das visões divergentes, se não a calmaria após a guerra. Falsa calmaria, assim como outro desejo a não ser destruir sonhos.

E tudo começou em pontos distintos tão próximos...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Aniversário

Postagem tardia. Mais precisamente, com 10 dias de atraso. E juro que gostaria de ter feito isto antes, mas parece que o texto fugiu de mim, e eu não tive coragem de ir atrás do que faltava com o que me restava dele. Assim sendo, o abandonei, deixei de lado de vez. E de vez nascera outro, talvez próximo, talvez não, nem eu sei. Apenas sei que veio e que desta vez saíra, por isso escrevo, e aqui escrevo o que acho que devo. Peço desculpas pelo atraso.

Aniversário

Dia em que se faz ano(s) que se deu certo acontecimento, ou em que se completa(m) ano(s). Uma data. Basicamente é isso, apenas uma data. E por que damos tanta importância para isso? Que motivos realmente temos para dar valor a uma data? Apenas um marco como tantos outros, um ponto que compõe nosso universo tão pontilhado como o céu estrelado. Mas é assim que somos, nos prendemos a detalhes, às vezes insignificantes, mas que para alguém pode estar recheado de significados. Aniversário seria então apenas um detalhe? Algo que pode passar despercebido por muitos, mas para os que conhecem o paradeiro deste ponto no universo, como se tivessem em suas mãos um mapa e uma marcação de um tesouro, sempre podem voltar suas atenções para algo importante uma vez por ano? Pensando deste modo, podemos dizer que o mapa é o calendário e o tesouro é o aniversariante (mais do que os presentes dados a ele, obviamente). De modo que alguns se juntam em torno deste tesouro para admirá-lo com mais cautela de vez em quando, especialmente em datas realmente especiais. Datas recheadas de significados, um marco.
E nada mais que isso, uma data. Sem valor mesmo ao ser lembrada, porém valiosíssima se associada a algo que realmente pode ter algum merecimento.
Dia em que se faz ano que se deu certo acontecimento. Um acontecimento que merece ser devidamente comemorado, se assim quiserem. E, de fato, merece. Em alguns casos há de se concordar, e este é um deles. Se for algo importante, é necessário, se faz necessário. Não por obrigação, mas por uma grande consideração. Consideração gerada por amor e amizade, consideração que dificilmente se apaga, uma vez que se apega a ela. E sendo verdadeira como esta data, também será duradoura, e dentro dos ciclos dos anos, se repetirá em manifestações claras de alegria, saudade, compaixão, e tantos outros sentimentos difíceis de se listar.
Apenas uma data, como outra qualquer, um marco no tempo como uma estrela no céu. Está lá, visível e brilhante, em seu sublime esplendor quase imperceptível aos que não querem notar. Mas está lá, de verdade.
Apenas uma data, mas uma especial.
Feliz Aniversário.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Dependência

Vazio crescente. Dimensão imensurável imersa em escuridão. Luz tangível escorregadia, caindo em pedaços no vácuo celeste, prestes a desaparecer. Sensação indescritível, falta sem limites, ausência ensurdecedora. Dependência de olhos...
Um, dois...
O tempo passa. O vazio aumenta. Mãos presas à parede, tão imóveis e impotentes. O rosto grudado no cimento frio, a voz gélida sem alcance, tentando trespassar a barreira da penitência, tentando trazer de volta o ar tão necessário. Lacrimejando, os olhos que nada vêem pedem uma luz guia. Pedem o retorno de suas forças.
Três, quatro...
Depêndência. Todo instante é eterno, toda eternidade é momentânea. E cada respirar se faz mais difícil, cada toque mais insensível. O tato esvai-se nas perdas. Lentamente, de mãos dadas a pedra imóvel, a cabeça agredindo a si mesma, nada parece fazer sentido.
Cinco, seis...
Sangue pinga misturado ao choro. Uma lágrima na chuva. Destino inexorável.
Sete, oito...
Desespero aumenta, os pensamentos começam a jorrar numa cachoeira de angústias. Saudade aperta. "É cedo, é cedo."
Nove, dez...
Loucura. Os batimentos cardíacos contam o tempo passado. Tempo cada vez mais curto, mais acelerado. "Tão distante, ainda é tão distante". Caindo no chão da pequena sala deserta, sem luz, sem água. Apenas a dependência. Encarando seu inimigo de frente, restam apenas os ecos de um coração abatido.
Onze, doze...
Treze, catorze...
Dependência.
Quinze, dezesseis...
Todo instante é eterno, toda eternidade é momentânea.
Dezessete, dezoito...
A respiração morre.
Dezenove, vinte...
Os olhos se fecham, restam apenas os ecos de um coração abatido.