quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Declaração

Ensaiando num quarto sozinho, deixando que as doces palavras ecoem livremente em baixo volume, até alcançar os ouvidos tão atentos e passar esta vibração para o interior. Para o coração. Não parece atingir o fundo, pois lá dentro a batida cala outras vozes. Vívida e cálida, para não dizer independente, forte o bastante para tomar tudo, preencher de vermelho até onde deveria ter outra cor. E os olhos que espiam o espelho tão aflitos percebem a loucura de sua própria alma, enxergam o vermelho brotando de dentro, corando tudo, até sua mente. É impossível ver outra coisa além do possível fracasso.
Outra vez a vergonha chega para dar um basta às idéias que nada querem dizer, à confusão que teima em voltar, como se disputasse um espaço tão apertado com todos os outros sentimentos. O espaço onde se deseja que a razão esteja. E se o pedaço de papel não fala por si mesmo, e se os sonhos e delírios noturnos não podem expor uma imagem tão delicada, tudo o que resta é a declaração minuciosa, para calar de vez a voz da dúvida, o incômodo que se lança para fora da boca sem permissão, apenas para ganhar asas e te deixar um ovo de frustração. Um presente que talvez tenha que lidar por um tempo, até chocar, viver e morrer, e seguir em frente para o lugar além de qualquer visão, de qualquer pensamento, onde os seres se cruzam e a história se faz de novo.
Declaração que nada muda mas que pensamos mudar tudo. Declaração que voa mais longe do que o desejável e traz bem menos do que é perdido. Declaração que limpa e suja novamente. Declaração que nada muda em nós o que queremos mudar nos outros.
Declaração que, acima de tudo, cumpre seu papel em dar a conhecer o que é mais profundo e misterioso que a própria alma: o ser humano em sua totalidade.

9 comentários:

Fonftka disse...

Há momentos em que a percepção parece se expandir para além de nossos olhos e um novo mundo se forma, grande e inesperado, sujeito às nossas interpretações oscilantes como a chama dançante de uma vela em seu estado jovem. A luz irradia a coloração que invade os sentidos, a música se desfaz em sons profundos de um ensaio ainda não acabado, tudo para que palavras ligadas por uma melodia flutuem pelo espaço procurando por um rítimo a que possam se prender e ser repetidas, numa espiral abstrata de emoções diversas. Soam as cordas trêmulas sob o toque de um sonho sem forma ou objetivo, talhado em fibras espectrais que nada esclarescem, sob o céu indiferente de todos os dias e sob a regência do tempo, que a cada dia é um.

Bom, sei lá.

Unknown disse...

Diante disso eu preciso comentar algo também (risos). Acho que hoje quem deveria ter postado aqui era você, Fonftka, e não eu.

Tiny Tanuki disse...

Raw raw raw raw =P


Te amo *-* xD

Fonftka disse...

AEEEEW!


Bom, Arty... agora você viu o que é uma declaração. 8D

Unknown disse...

É, eu vi. E agora também não posso ficar calado.

Karla, te amo =** XD

Fonftka disse...

Viu como é fácil? O fluxo de palavras que tentam em vão explicar a amplitude dos sentimentos mais profundos acaba por confundir a compreensão das almas receptoras, umas vez expostas ao mistério da manifestação íntima que é uma declaração. Amém.

Tiny Tanuki disse...

Amém o.o

Fonftka disse...

Amém.

Aru disse...

Amém!

Bela declaração, mas prefiro a da Karla... .-.
E... não entendi bulhufas do que o Fonftka escreveu no primeiro comentário XD