sábado, 14 de novembro de 2009

Caminhos

Eis a tarefa que me foi dada de pensar nas minhas possibilidades. Eis a oportunidade de refletir sobre o meu sofrimento e sobre as alternativas não tão visíveis, mas que existem, de uma forma ou de outra, para além de onde minha força consegue alcançar.
Por isso aqui estou, a escrever, e pensar, e revirar. Revirar o que já foi dito e sentido, e tido e perdido, perdido para algum lugar além de onde a esperança descansa. Descansa esperando o seu retorno esperançoso, torcendo para que no fim não fique rançoso. Enfim, esperando um caminho de mudança.
Não há, de fato, um único caminho sem volta e de puro perecimento. Mas também não há, e este fato é mais do que inegável, uma escolha sublime que me fará melhor. Seja por agora ou no futuro breve.
O que resta, sem dúvidas, é o mero planejamento de um amanhã livre. Livre das pressões insensíveis, sem fundamentos, das forças cegas que só destroem. Das visões divergentes que engolem o que deveria ser construído.
E enquanto planejo vejo as possíveis rotas para o final feliz. O final que alcançarei, não com as minhas forças, mas guiado por uma luz que não pode desaparecer da minha vida.

Hoje estou mergulhado num desespero crescente. No medo. Não medo de me perder, mas de perder a luz. E para não perder esta luz é que me sujeito às dores. Enfrento-as sem enfrentar de fato, e a minha alma termina lanhada por um açoitamento sem limites. É simples. É fácil. A descrença machuca, as cobranças também. As palavras falsas, repletas de desculpas que tentam ocultar a verdadeira culpa. Tudo isso eu já sei.
Tudo isso suporto para ficar um pouco mais próximo de minha luz. Temendo perdê-la, até que o tempo de vê-la chegue. Está perto, mas parece tão impossível agora. Não quero acreditar que vai falhar. Isso me faz dizer "vai dar certo, eu vou conseguir" para mim mesmo o tempo inteiro. Mas e a verdade? Eu não sei...

Se eu pudesse mudar, mudaria. Mudaria para uma forma menos agredida (e mais agressiva). Mudaria aos pequenos moldes tão desejados por aqueles que enfrento, não por sucumbir às suas vontades, mas por usar isto a meu favor. Para construir o meu caminho até a luz. Mas temo fazer isso. Temo desviar o meu olhar desta luz e me perder. Não me perder em mim mesmo, mas perder a luz em si. Parar de alimentá-la e deixá-la morrer, de forma que não a encontraria mais por deixar de existir. Ela e eu. E assim, morreriam os sonhos, a vida, e até mesmo as lembranças. Tudo morreria. Murcharia. Apodrecendo no vento seco. Apodrecendo no ar repleto de palavras duras.

No entanto, penso agora, penso nisso desde quando a idéia surgiu. Desde quando o planejamento nasceu como um relâmpago para iluminar uma vez o meu caminho nessa névoa. Penso em seguir em frente. Seja lá pra onde a frente me levar, mas seguir em frente... Vai doer, vou sofrer, mas no fim, vou ver a luz. Vou forçar, vou brigar, e estou quase me rebelando em mim mesmo, expandindo a alma tão comprimida, prestes a perder tudo por um pouco mais. Apenas por um pouco mais...

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Caixas

A essência deste relato não pertence a mim. Na verdade, a essência está em mim, mas a inspiração veio de fora. Trata-se somente de caixas, mas são diferentes da visão que temos normalmente. É exatamente a mesma sensação, como se fosse um reflexo, de modo que entendi aquilo como se tivesse sido pronunciado por mim. É, de fato, o mesmo medo...

Um sonho. Descobrir o que se gosta é realmente um sonho, depois de uma espera tão grande, de uma dúvida sem tamanhos e de uma sequência histórica da vida tão pesarosa. O tempo avançando e a pressão quase te esmagando por ainda estar tão arduamente relutente a escolher um caminho para si. Descobrir-se no seu mundo, no seu espaço, é como a ilusão de uma pintura que sai da tela, que te toca e acaricia. Mas, ainda assim, não é o fim, restam muitas coisas para serem feitas, muitas caixas para serem abertas.
Aí está o medo, o receio de não saber até onde se pode ir. Não por esperar menos de si, mas por saber que tão ampla são suas escolhas, seus projetos, seus desejos, e o tempo miseravelmente curto. É saber que se está numa zona aparentemente estreita, coberta por uma penumbra misteriosa de sua própria mente, e que conforme você avança no seu espaço, clareia um pouco mais sua alma para revelar as caixas depositadas neste solo. No seu coração. Ali estão, eu posso ver, mesmo que no momento apenas uma dúzia delas, sei que dentro desta névoa escura e espessa estão tantas outras. Um sem número delas, me esperando para serem abertas, descobertas, trabalhadas.

Os passos são limitados, predefinidos numa quantidade não revelada. E sei que não poderei caminhar para sempre dentro de mim mesmo, em busca de tudo que sou capaz de fazer. De criar. E pensar nisso é um tanto assustador. Mais que frustração ou decepção, apenas medo. De ser capaz e não ter capacidade. De ter pernas e não poder caminhar, porque as caixas são ilimitadas para estes olhos quase cegos.
Não pretendo fazer nada apressado, não quero correr para avançar em passos largos o que os meus passos tão curtos não poderiam alcançar. O segredo é começar antes, começar mais cedo. Fazer tudo no tempo que deve ser feito, enquanto o sol ainda raia todas as manhãs e me espera quando vai dormir. É fazer tudo enquanto essa luz toca o chão onde as caixas me aguardam. Pois quero abri-las uma a uma, desenterrar o que há em seu interior e montar obra por obra, com cautela e dedicação, encarando um medo que sei que jamais irá desaparecer.
Pergunto-me se este medo é comum para os que criam. Parece tão distante dos comentários cotidianos, das pequenas vontades de fazer cada dia um dia especial. Uma questão sem resposta, esta das caixas? Ou apenas uma questão que não quero solução?

Tudo que sei é que enquanto houver dúvida e receio, haverá também a vontade de prosseguir e experimentar...